Colcha de Retalhos

"O homem é um deus quando sonha e não passa de um mendigo quando pensa." Holderlin

Textos


NINA PADILHA

Ela conhece a linguagem dos homens. Compreende suas palavras e seus silêncios e traduz de uma forma particular a narrativa do amor e do abandono - do canto e do grito - enquanto folheia as páginas perfumadas de suas vivências. Reconhece, na indiferença dos dias, a construção da Babel contemporânea que enlouquece e fragmenta, mas, travessa, brinca com os degraus do sorriso e, quando anoitece, recolhe-se na extremidade de sua construção e vela as veredas do destino.

Conheci Nina Padilha na primavera parisiense. Suas metáforas lançadas instintivamente como polens de poesia germinaram em meu pensamento como tulipas. As fortes cores podem esmaecer nas estações sucessivas, mas a essência permanecerá com a perenidade de um jardim de vivências.

Como forte presença, como suspensa nostalgia...

Escrever sobre Nina Padilha, cantora e compositora francesa, apaixonada pelo Brasil, sem compartilhar os seus poemas seria absurdo. Flor Pisada e Folha de Papel...

FLOR PISADA (Nina Padilha)

Sentada no meio do silêncio escuro,
Quieta, parada, eu respiro o luar
Que pinta você em prata e luz no muro.
Sinto pena de mim: eu não sei mais voar.
Meus pensamentos esfriando no cinzeiro
Onde apaguei tantos gritos calados.
Minha mão afagando o travesseiro,
Procurando sombras de sonhos roubados.
Lembranças lúdicas fazem sorrir a dor,
Mas a tua ausência me impede de crer em Deus.
E a saudade vem pontuar de amor
A inutilidade desses versos meus.

FOLHA DE PAPEL (Nina Padilha)

Minha mão tremendo, quase nada,
Afagando a folha imaculada,
Folha de papel onde, empolgada,
Versifico o amor de madrugada.
Mas quem acredita no amor
Fica sem defesa e sem pudor.
Tem um coração de sonhador
E nem se assusta com a dôr.
Essa dôr sútil me atordoa
Quando o pensamento vai a tôa.
Ouço a tua voz e me magoa
Aquele silêncio onde ela ecoa...
Nossa! que silêncio tão sentido.
O meu verso até ficou detido.
Eu me arrependo de ter ido
Numa contra-mão, rumo perdido.
Minha mão tremendo, quase nada,
Segurando a folha rabiscada.
Folha de papel onde, cansada,
Eu matei o amor na madrugada.


Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 13/05/2008


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