Colcha de Retalhos

"O homem é um deus quando sonha e não passa de um mendigo quando pensa." Holderlin

Textos

AS FÉRIAS DO LOBO MAU
Matinê de domingo. Os personagens dos contos de fadas iniciam os conhecidos trajetos infantis. Chapeuzinho Vermelho leva os doces para vovozinha e consegue atravessar a floresta sem problemas; os três porquinhos permanecem cada um em sua casa em segurança; a pastorinha não precisa mais tomar conta das ovelhinhas... Cadê o lobo mau? A calmaria deprime os personagens que ficam sem saber o que fazer. Onde está o conflito?
A platéia, formada por pais e filhos, ri da inquietação dos personagens bonzinhos. O lobo mau, cansado de ser cortado e costurado nas narrativas diárias, entrou de férias por tempo indeterminado e de agora em diante quer ser lembrado como um personagem do bem ou simplesmente esquecido...
Eis o conflito: a sua ausência. Sem o lobo não há possibilidade de superação, a linearidade das trajetórias é tediosa e entristece ou enlouquece os personagens perdidos numa rotina sem criatividade ou desafios.
Os personagens “bonzinhos” da floresta se reúnem e tramam uma forma de provocar o retorno ao batente do malvado. O lobo ludibriado volta a aterrorizar a todos e a peça encerra com a restauração dos contos de fadas e com a percepção de que todos os papéis na floresta são imprescindíveis. O que seria do bem se não houvesse o mal a delinear sua grandeza?
O público, encantado com a bela montagem, sai com a reflexão sobre os próprios conflitos e a forma como são superados nas lutas cotidianas. O lobo mau pode representar uma pessoa, um governo, uma indiferença, uma realidade, e deve ser identificado e combatido por todos os que desejam escrever um final feliz com a vida marcada por um grande feito. Mas o conflito representado nos pólos antagonistas jamais poderá ser apagado das narrativas, pois o seu papel é a possível redenção e superação dos que lutam e se aventuram em novos caminhos.
A peça “As férias do Lobo Mau”, escrita por Alexandre Quartieri e dirigida por Cristiane Souza, ficará em cartaz até o próximo domingo (11/12) às 16 horas no Teatro Marina Machado em Curitiba.
Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 05/12/2005


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