FLORES E ESPINHOS
FLORES E ESPINHOS
Sangrar! A exteriorização das ressurreições, a interiorização dos nascimentos que a mulher guarda sob seu olhar no mundo. Uma iniciação rubra que lhe marca a vida, desentranha os sonhos e as ilusões; dá as cores e as sombras; interioriza alguns gritos e muitos sussurros e lança ao mundo frutos fortalecidos. Gestações continuadas de um vir a ser que surpreende e engrandece a contemporaneidade. Observar o mundo e ser mundo. Nunca perder a referência do seu corpo alinhavado no vasto continente da humanidade. O dia internacional da mulher não é inspirado em flores, é um marco de conquistas erigido sobre o sangue vertido pelas tecelãs de uma fábrica de tecidos em Nova Iorque que se rebelaram contra as condições de trabalho existentes e foram trancafiadas nos conservadores portões da intransigência e da impunidade em 1857. 129 mortes. Quantas mães? Quantos arrimos de família? Quantas filhas? São várias as datas que poderiam reconhecer o valor e a luta da mulher, muitas realizações e muitas batalhas poderiam ser relacionadas, mas também são muitos os dias em que as manchetes de jornais alardeiam a violência contra a mulher, a diferença salarial entre os sexos, assédios, preconceitos e as diferenças que dificultam a inserção das mulheres nos mercados de trabalho, nos cenários políticos ou em alguns grupos sociais. A luta é cíclica. A mulher está habituada a compreender a ferida, sangrar e cicatrizar em busca de novos ciclos. O dia internacional da mulher marca a luta perpetrada nos renovados perfis femininos que se destacam em suas atuações. Trabalhadoras rurais, executivas, professoras, artistas, operárias, donas de casa... Mulheres que assumem seus papéis no mundo e buscam o apogeu de suas funções. O artigo “Aprendizado Visceral” de Fábio Góis, publicado no Correio Braziliense, sobre o caráter confessional das crônicas de Clarice Lispector, transcreve um trecho marcante: “Não sou pessoa que precise ser lembrada de que dentro de tudo há o sangue. (...) sou demais o sangue para esquecer o sangue”. A grande escritora percebia os ciclos e reconhecia o sangramento de suas palavras. Clarice Lispector gritou ao mundo suas confissões e deu à luz a uma narrativa inovadora que engrandeceu a literatura brasileira. Uma grande mulher que costurou no corpo a perspectiva do futuro, sangrou presentes e cicatrizou com a imortalidade de sua obra. 8 de março. Dia de flores e espinhos, palavras e silêncios, ideais e ambigüidades, conquistas e derrotas... Dia de mulheres aguerridas e suas realizações. Helena Sut
Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 09/03/2005
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