BORIS YELTSIN
As descobertas do período de formação universitária dão espaço à angústia das entrevistas por emprego. O mundo já não se apresenta com segundas chamadas, faltas justificadas, seminários e matérias eletivas. É tudo ou nada. Reforma ou revolução. O presente urge decisões distantes do encantamento com a leitura dos autores progressistas. Reestruturação de idéias e posicionamento nos contextos reais. Escolha de possibilidades. Tentativas e erros. Agosto de 1991. O dia da formatura no curso de direito é marcado pelas notícias sobre a resistência nas ruas de Moscou e a atuação do então presidente da Rússia, Boris Yeltsin, durante o golpe armado pelos comunistas tradicionais contra o líder soviético Mikhail Gorbachev. A imagem de Yeltsin liderando as massas em cima de um tanque ficou gravada na lembrança como a representação plástica do heroísmo. Ruy Barbosa, Pontes de Miranda e outros juristas sempre citados em ocasiões similares foram eliminados dos discursos dos patronos, paraninfos e professores homenageados que improvisaram homenagens a Boris Yeltsin e comentários sobre o momento crucial de transformação do mundo. Todos os presentes buscavam notícias sobre o andamento do levante e da resistência nos bastidores do auditório. Em vários momentos, a solenidade deu espaço às notícias de última hora. Vitória da democracia! Abril de 2007. Mais de quinze anos após o levante, acordo com a notícia da morte de Boris Yeltsin e os comentários sobre o papel do líder russo. As matérias destacam os sintomas de ciclotimia, alcoolismo e saúde precária de Yeltsin e a situação política e econômica atual da Rússia. Depoimentos diversos apresentam o defensor da democracia, dos esquemas de privatizações fraudulentas, de louváveis acertos, de irreparáveis erros... Herói, mártir ou vilão? Tento em vão comentar a morte do ex-presidente russo, mas não consigo interlocutores com as mesmas lembranças. Poucos se recordam dos fatos de agosto de 2001. Alguns remontam os fragmentos da explosão do Parlamento e a guerra da Chechênia; outros, as notícias de excessos ocasionados pela embriaguez do líder russo. Boris Yeltsin chegou ao poder com grandes intenções e expectativas e renunciou abatido pelos insucessos. Como sobreviveu ao apogeu e não realizou as mudanças necessárias para a construção da sociedade democrática pós-socialismo, não conseguiu se firmar na história como um personagem inesquecível. Na sociedade do espetáculo, a dinâmica das novas realidades, as manipulações e os segredos afastam a possibilidade de uma reflexão imparcial e decretam o esquecimento dos homens que passaram sem as circunstâncias dos mártires ou heróis.
Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 25/04/2007
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