OLHOS E SEIOS
O corpo cria um novo significado para o prazer. A dimensão do outro percebida nos grandes olhos abertos sobre o ventre. A realização umedecida e refletida na continuidade. Não há palavras, não há silêncios... Ele se apropria dos seios com a determinação dos famintos e se inebria com os instintos saciados. Os olhos adormecem. A mulher esconde o corpo nas vestes do mundo, deixa-se alimentar com a serenidade das feições do pequeno... Tenta decifrar o futuro na placidez da face. Embrulhá-lo novamente nas entranhas, talvez apenas mais um instante... Tentativas atropeladas no tempo exteriorizado. A realidade impõe as vestes. Primeiros gestos, traços cegos num mundo de vultos, contracenam com expressões sombreadas num mundo de certezas. Mãe e filho se complementam num corpo de fragmentações, permanecem a salvo das tentações enquanto se aproximam de suas pulsões. Amadurece a malícia e a vergonha nas belas raízes do eu no mundo, na armadilha do “nós” encasulado. O prazer deflorando a alma. A construção do instinto nos versos escritos nos movimentos nus de contrações e entregas. Cheiro de leite, olhar coalhado de primeiras impressões, fragrância exótica, olhar em série... As tonalidades carmins desenham o horizonte a obscuridade dos novos desejos tatuados nos corpos protagonistas das primeiras rupturas. Sensações desvirginadas no afastamento do olhar dos seios. Não há palavras, não há silêncios... Olhos e seios. Passo pela jovem mulher, sentada no banco de praça, amamentando o mundo, sob o olhar atento do pequeno Lucas. Meus olhos se orvalham na beleza do instante, os seios ressecam distante da infância...
Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 03/02/2005
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