Colcha de Retalhos

"O homem é um deus quando sonha e não passa de um mendigo quando pensa." Holderlin

Textos

O ENCONTRO
O homem. O olhar percorre as paredes do salão. Esconde-se nos cantos, confunde-se com a multidão... Percorre a distância até os olhos da mulher em tantas perspectivas. Olhos argutos, inquietos, invadem o pensamento e dominam o presente. Ela tenta corresponder, resvala, os olhos perdem-se entre as linhas da timidez e da malícia.
A cabeça baixa e o riso contido desmancham a travessia da primeira descoberta. Entre as margens, os personagens tentam agarrar-se aos possíveis encontros em terra firme. Os ideais solos férteis, os oásis distantes nos desertos cotidianos, os horizontes...
Os outros surgem num cenário improvável. O olhar passeia, aproxima-se, disfarça... O que representa? Insiste em desnudar os primeiros véus, as primeiras máscaras. Permanece nos protegidos cantos... O que tanto grita os versos de seu silêncio?
A mulher corresponde. Deixa-se libertar das visões cotidianas e ousa compartilhar a leitura desconhecida e sedutora do olhar que lhe desenha um novo perfil. Observa o brilho de sua nova silhueta no reflexo distante, deseja estar próxima do desenho. Mantém o olhar erguido ainda com alguns disfarces. Fantasia o foco...
O significado do olhar, o desejo a escrever no corpo as sensações convergentes. Os olhares encontram-se, desfilam em paralelos distantes, queimam-se, consomem-se... Extinguem a tranqüilidade dos seguros portos sobre mares bravios. Deslizam em ondas com novas e traiçoeiras descobertas.
Os corpos aproximam-se. Os olhares apresentam novas carências: os carinhos desejados, as palavras amorosas... As ausências rabiscam as imprescindíveis presenças: a voz, o toque, o nome... No salão, a forte voz destaca-se entre tantos murmurinhos, o nome do olhar...
As possibilidades dedilham o ar, rabiscam as emoções represadas. A mulher sente os acordes do sentimento nas íntimas contrações, novamente sente interiorizar a malícia num gesto tímido. O homem sorri o afeto descoberto e repousa as mãos sobre os ombros da mulher, acaricia lentamente seus braços.
Ele despede-se com a esperança de um novo encontro, ela corresponde, mordendo levemente os lábios...
Encantamento... O olhar percorre as paredes da memória, esconde-se nos sonhos, nos cantos dos salientes sorrisos...
O olhar assume um novo significado. Saudade...
Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 24/06/2005


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