JUAN Y MARÍA - Raymundo Rolim
Brasil, 1979, Raymundo Rolim hospeda, no sótão de sua casa, vários estudantes latino-americanos oriundos de países envolvidos em conflitos políticos e sociais. Entre eles, um jovem estudante salvadorenho refugiado dos atos de repressão do governo e da campanha de terror patrocinada pela direita em El Salvador. Não era propriamente um refugiado político, mas o aparecimento do corpo do cunhado boiando num dos rios da capital e os envolvimentos nos movimentos estudantis e de guerrilha foram motivos para estudar em outro país. Década marcada pelo autoritarismo nos países latino-americanos. Os jovens se rebelavam contra as ditaduras instauradas em suas pátrias e buscavam, na universalidade do continente, alicerces para a realização de um mundo com mais justiça e igualdade. Raymundo, em homenagem ao jovem estudante salvadorenho, compôs uma música retratando a luta pela terra de um casal de camponeses: Juan e María. Vinte e cinco anos... Apresentada no I Festival Internacional de Música Camponesa, realizado em Curitiba em novembro de 2004, a canção ainda é uma crônica real da maioria dos povos da América Latina. A bela melodia envolveu o público que entoava o refrão em espanhol, acompanhando os intérpretes, dividido entre o encantamento com a criação artística e a indignação com as imagens contemporâneas. A canção foi interpretada por Raymundo Rolim, Eliane Bastos, Rubem Rolim, Javier e Oscar do Vientosur e está no primeiro cd latino-americano de música camponesa junto com as demais finalistas do Festival. Sem palavras para dar continuidade aos sentimentos aflorados pela canção, só me resta compartilhar a letra de Juan y María, composta por Raymundo Rolim, sem a magia dos instrumentos, mas com a musicalidade da língua espanhola e com a poesia costurada na coragem e no sonho de muitos trabalhadores rurais latino-americanos: Hermanos sigan sin miedo Que la noche trae el dia La suerte siempre acompaña Quien rompe la encadenaria. Lo que aquí se cuenta Ha pasado en otros días Por el sur del continente Con Juan y con María. María campesina hermosa Trabajaba y si reía De su pueblo simplecito De amor y de alegría Hermanos sigan sin miedo Que la noche trae el dia La suerte siempre acompaña Quien rompe la encadenaria. Juan un hombre despierto Todo el tiempo así pedía Y tendría que por cierto Casarse con María Hasta se conocieron Si perdieron en fantasías En un poblado chiquitito Se casó Juan con María El tiempo se fue Sin dar cuentas pasó Ahora restan pocos días A Juan y su María Hermanos sigan sin miedo Que la noche trae el dia La suerte siempre acompaña Quien rompe la encadenaria. Los hijos de esos dos Se quedaron por la tierra Les quitaron tantos sueños A camino de la sierra Juan tenía María María Juan e hijos Ahora no tienen nada Ni voz, ni sangre, ni frío.
Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 23/06/2005
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