ROSTOS RESTOS RISOS (CARLINHOS VERGUEIRO)
A platéia aguarda o músico Carlinhos Vergueiro no Bar Brasil em Curitiba. A noite de inauguração do projeto de apresentação de músicos novos e consagrados, idealizado pelo músico curitibano Gerson Bientinez, acende as expectativas de quem gosta de se aventurar nos acordes da brasilidade forte e resistente aos ritmos despersonalizados da globalização. Silêncio. Palmas. Carlinhos Vergueiro sobe ao palco e começa a dedilhar. Uma voz e um violão assumem a batuta de nossas emoções. As músicas e poesias são alinhavadas com as homenagens aos parceiros distantes. Chico Buarque, Adoniran Barbosa, Paulinho da Viola, Cacaso... Histórias de parcerias e festivais complementam o repertório do artista. A platéia atenta reflete o terno sorriso do compositor. Carlinhos Vergueiro apresenta as músicas do novo cd “Por todos os sonhos” e cria uma nova significação para os versos de “Leve”, composição em parceria com Chico Buarque: “Meu coração parece que perde um pedaço, mas não/me leve a sério/Passou este verão/Outros passarão/Eu passo”.O que não passa é a leveza de sua música, a sutileza com que confidencia e compartilha o amor e a felicidade, a entrega total dos espectadores à sombra de sua arte. O que não passa são as lembranças e as expectativas, a esperança e os sonhos... O compositor brinda os presentes com a música “Como um ladrão”, vencedora do Festival de Abertura da Rede Globo em 1975. Todos fazem coro, cantam e se espantam com as tantas lembranças sombreadas nos acordes. Faces rejuvenescidas, olhares redescobertos. Reconstruímos nossos continentes alimentados pelo resgate dos grandes festivais. Todos os sonhos são possíveis... “Rostos restos risos”. Perco-me no verso, tento pontuar, mas as palavras reticentes criam novas possibilidades. Sentimentos aflorados em risos, semeiam rostos em restos de sonhos... Por todos os sonhos, por todos os risos... Último acorde. A platéia aplaude de pé. Bis! Bravo! Carlinhos Vergueiro sorri e dá continuidade ao encantamento com novas músicas. Despede-se com palmas. Caminha por entre as mesas, conversa com os enebriados espectadores e autografa os cds vendidos. “Rostos restos risos”. O verso reverbera no pensamento. Reticentes as palavras passarão em novas percepções, enquanto passo as lembranças nos versos de “Sem tribo” (Carlinhos Vergueiro/Paulo César Feital), primeira interpretação da noite: “Vou vagando pela madrugada/Clandestinamente santo/Publicamente canto/Por todos os sonhos/Por todas as tribos/Por todos os riscos/Por toda a minha vida...” Músicas, memórias, magia... Refém da arte, a madrugada curitibana ganha a harmonia de todos os sonhos.
Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 21/06/2005
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