Colcha de Retalhos

"O homem é um deus quando sonha e não passa de um mendigo quando pensa." Holderlin

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ÉTICA E TRANSPARÊNCIA
As notícias sobre a última crise que abala as instituições nacionais dominam os diálogos cotidianos. Todos emitem opiniões, apesar dos truncados e contraditórios pronunciamentos e da natureza retaliatória das acusações. Contudo, em todas as declarações percebo a presença de duas palavras, ética e transparência, esgarçadas nos seus significados e utilizadas como alegorias para atrair solidariedade.
Perplexidade... Uma sensação comum a todos que assistem ao triste espetáculo. O conflito ultrapassa as possíveis representações. Lançada a suspeita só uma apuração rigorosa para restaurar a inocência ou identificar as responsabilidades.
Insuflada pela indignação, tento dispor da ética, mas me rendo ao vernáculo. Ética é um substantivo sem grandes variações quanto ao significado. Ou somos éticos ou não, uma opção definitiva na escolha entre o bem e o mal. Por definição, a ética só é relativa quando não se dispõe a analisar o amplo universo, restando limitada a um continente e suas peculiaridades.
Um escândalo aqui, uma blindagem ali... A arte de apagar incêndios e de manipular o esquecimento. Mesmo distante de sua origem, a palavra ética continua com um forte apelo na mídia e certamente alcança a simpatia dos que idealizam o estudo e a apuração das graves denúncias anunciadas.
Sem conseguir prosseguir num estudo imparcial sobre a conduta humana, principalmente a dos que detêm o poder, e fragilizada após a implosão de tantas bombas de fragmentação ideológica, fico sem norte para me reencontrar nos continentes das aspirações sociais. Resta-me a expectativa pelo deslinde da crise e pela transparência de uma indignação.
Eis uma palavra plural. Transparência... Uma metáfora a ser elaborada entre o sentido próprio e o figurado. Penso nos véus e nas fantasias que podem distorcer a claridade... O que transparece após a elaboração das defesas e acusações? Silêncios? Novas alianças?
Abandono os noticiários na impossibilidade de verdades nuas e deixo o pensamento vagar nos holofotes que supostamente iluminam os focos a serem controlados. Afinal, como concluiu Honoré de Balzac em Um Caso Tenebroso: “A sociedade é como o oceano, após um desastre retorna o seu nível e seu ritmo e apaga os vestígios pelo movimento de seus devoradores interesses.”
Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 13/06/2005


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