MARESIA
“Entre um passo e outro percebi que nunca te amei!”
Assim o rapaz se despediu da moça sentada no banco da praia. Acompanhei o seu caminhar até não mais vê-lo. Os passos estavam descansados por aquela descoberta. Caminhou livre, laureado pela brisa noturna. Pode redesenhar um horizonte ao longe... A percepção libertara suas expectativas de um encontro. A moça, sentada, tinha o olhar preso ao mar. Encarcerada num ir e vir que não entendia. “Por que entre um passo e outro? Por que nunca?” Deixou o olhar descansar distante. Viajou nas ondas perdidas que insistiam em não encontrar a areia. Enfim, libertou-se das palavras e chorou. Não foi choro escandaloso ou contido. Foi um choro carente de amor, foi choro entre um e outro, choro de encontros e despedidas... De repente, ela se levantou. Caminhou lentamente e, entre um passo e outro, percebeu que não havia motivos para lágrimas. Acompanhei o seu caminhar até não mais vê-la. Os passos acompanharam sua liberdade, fugiram das visões presentes. Os dois libertaram-se das incertezas... Aprisionei a angústia. A fragmentação do encontro e do que poderia ter sido desaguou na certeza de que nunca fora para os desconhecidos. Libertei as suaves ondas e, com o olhar marejado, tentei buscar respostas nos idealizados portos seguros... “Por que entre um passo e outro? Por que nunca?”
Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 10/06/2005
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