REFÉM DE UM AMOR
“Perto de ti dança minha alma desarmada...” Balada de agosto Fagner e Zeca Baleiro O arrepio de uma melodia. A música desenha o riso misterioso na face da saudade com a presença do momento de prazer... Amadurece no olhar distante e se reescreve com as emoções ressecadas de uma desilusão. O verso desnuda a entrega com os véus da certeza do encontro, com a constância do encantamento... Com as metáforas decifradas, grava a cicatriz da ingenuidade nas lembranças dolorosas. O “vinho derramado” na música Balada de Agosto conclui a certeza de que seu coração “vive cheio de amor e deserto”. A mulher retorna ao caminho com um novo perfil, um novo traço marca a ausência no canto do seu sorriso. Um esconderijo para suas verdades mais íntimas... Ela retorna à rotina, sobrevive nos passos das novas sombras, cansa das recordações reticentes... Tantos dias marcam a certeza. A impossibilidade de plantar o futuro na aridez de um desencontro. Arde a percepção nos infinitos areais de um coração repleto de deserto, esfria a expectativa do prazer nas noites sem proteção de um coração cheio de amor... De longe, observa o perfil do homem abatido, caminhando do outro lado da rua. Seu olhar é oblíquo, finge não o perceber, enquanto ele disfarça sua presença. Seus caminhos se encontram, mas sem destinos... As palavras e os gestos nas recordações são armas poderosas que aniquilam o presente. “Lá fora a chuva desaba e aqui no meu rosto...” O início da música reabre a janela para a remota paisagem. A mulher entra em casa sozinha e encontra, sob os escombros do relacionamento, razão para as tantas lágrimas que deságuam. Seu rosto é a foz do rio de um equívoco. Desespera-se. Olha as paredes ao redor, sente a aridez dos motivos a endurecer a alma desarmada, sua dança abruptamente interrompida... Anoitece com os tantos brilhos molhados. Seu choro é corrompido pela ausência de dor... Sente o coração desértico a suplicar pelo calor de uma paixão para ancorar seus pensamentos... “Perto de ti dança a minha alma desarmada...” O verso revive a fragilidade diante de um olhar mareado. As palavras silenciam salgadas nos ventos das recordações.
Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 24/01/2005
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