PAPIROS E PERGAMINHOS - PALAVRAS
PAPIROS E PERGAMINHOS
PALAVRAS “Nunca esgaravatei a terra nem andei à caça de ninhos, não herborizei nem atirei pedras aos pássaros. Mas os livros foram os meus passarinhos e os meus ninhos, os meus animais domésticos, o meu estábulo e o meu campo; a biblioteca era o mundo colhido nem espelho; tinha a sua espessura infinita, a sua variedade e a sua imprevisibilidade.” Jean-Paul Sartre Centros de conhecimento... Desde as civilizações da antiguidade, temos registros da existência de bibliotecas e podemos constatar a importância da linguagem escrita na evolução humana. Muitas foram as superfícies encontradas para dar sustentação à comunicação escrita: os desenhos nas paredes das cavernas, a escrita cuneiforme nas placas de argila, os talhos em madeiras... Os egípcios descobriram o papiro, planta que crescia nas margens do rio Nilo, e o desenvolveram como uma espécie de folha de papel, escrita apenas de um lado, e guardada em rolos para abrigar os escritos. Foi o material mais utilizado nos documentos da antiguidade e de sua importância se originou o nome da Bíblia. A folha tirada do caule do papiro chamava-se biblos. O Egito fornecia papiro a diversos reinos e as respectivas bibliotecas se desenvolviam. Contudo, o grande crescimento da Biblioteca de Pérgamo, cidade da Ásia Menor, durante o reinado de Eumenis (165 ac), fez com que os egípcios boicotassem o fornecimento do papiro e não vendessem mais material para os habitantes daquela região. Diante do impasse, foi necessário criar uma nova possibilidade de superfície para a comunicação escrita. Foi aperfeiçoado o pergaminho, couro curtido de ovelha, descoberto anteriormente pelos gregos, e utilizado na elaboração dos textos e na contínua expansão da biblioteca. O pergaminho propiciou um novo formato para os escritos, o códice, semelhante ao do livro moderno. Na Idade Média, verificamos o surgimento de grandes bibliotecas de propriedade dos reis, autoridades eclesiásticas e estudiosos e o ininterrupto desenvolvimento do processo de publicação e edição dos manuscritos. A descoberta do papel e a invenção da tipografia representaram uma grande revolução para o mercado editorial e para a ampla divulgação do conhecimento. Foram fundadas bibliotecas públicas em todos os grandes centros e disponibilizados os livros para seus habitantes. O “saber”, que antes representava uma distinção nas sociedades, passou a ser compartilhado por todos que tivessem interesse em aprender. As bibliotecas nacionais passaram a ser repositórios de toda produção livresca dos países em função da instituição do “depósito legal”. No Brasil, as primeiras bibliotecas datam do século XVI e são de propriedade das ordens jesuíticas. Em 1808, a família real portuguesa trouxe o núcleo da primeira biblioteca oficial e pública do Brasil – Biblioteca Nacional e, em 1814, aproximadamente 60 mil livros foram franqueados ao público. Os formatos dos livros continuaram se adaptando aos novos tempos. O mercado editorial cresceu muito, assim como o número de escritores e leitores no mundo inteiro. Hoje o livro impresso convive harmoniosamente com os livros virtuais e eletrônicos. As bibliotecas continuam erguidas sobre sólidos alicerces, possibilitando a todos o acesso ao conhecimento. Não há como substituir o livro de cabeceira... O grande escritor Jean-Paul Sartre, na obra autobiográfica “As palavras”, mostrou a importância que a biblioteca do avô exerceu em sua vida literária. No primeiro capítulo “Ler”, correspondente aos primeiros anos e leituras, o autor narra o deslumbramento com os livros, a descoberta das primeiras letras e suas viagens literárias em paralelo com suas vivências. No segundo - “Escrever”, está claro o amadurecimento do autor e sua opção: “É o meu hábito e é, também, o meu ofício. Durante muito tempo tomei a pena por uma espada; agora, conheço a nossa impotência. Não importa: faço e farei livros; são necessários; sempre servem apesar de tudo. A cultura não salva nada nem ninguém, não justifica. Mas é um produto do homem: o homem projeta-se nela, reconhece-se nela; só esse espelho crítico lhe devolve a própria imagem.” Os livros que Sartre leu na biblioteca do avô e as palavras que não conseguiu compreender semearam o jardim do seu conhecimento – “...é o humo da minha memória”. “Eu encontrara a minha religião: nada me pareceu mais importante do que um livro. Na biblioteca eu via um templo.” A existência de bibliotecas é fundamental para o desenvolvimento de qualquer grupo social. Propicia o debate, as vertentes, as contradições e a evolução. O escritor e sua obra são imortalizados na continuidade do pensamento, no retrato da história, na poesia de sua criação... Palavras emolduradas nos olhares atentos dos leitores. Conhecemos os homens por suas leituras. Um livro pode significar a grandeza das percepções, a ousadia dos descobrimentos...
Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 13/05/2005
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