RELEITURA
O sentimento se apresentava com cor, sabor e cheiro, mas brincava de ser num conteúdo inexistente, na impossibilidade de permanecer além das palavras, dos gozos, dos silêncios... Era uma emoção que se perdia na tentativa de encontrar no outro o presente. Uma paixão para ser exaurida e não realizada, um prazer a ser conjugado no passado como a bruma salgada da maresia dos mares distantes, a vida pronunciada como memória já saudosa de futuro, adiada nas rasuras dos pretextos, contextos e remissões. A tardia tentativa de buscar a juventude dos sonhos irrealizáveis e permanecer estreante nas relações amadurecidas pela convivência. Lançada contra a parede, não adere à superfície, mas já não sente a brevidade da inconstância, percebe na revelação de um negativo que a realidade era invertida e que tirada as máscaras não restaram personagens vivos para representar a farsa de um roteiro mal escrito.
Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 25/04/2006
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