Colcha de Retalhos

"O homem é um deus quando sonha e não passa de um mendigo quando pensa." Holderlin

Textos

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
“...Resta-me a expectativa pelo deslinde da crise e pela transparência de uma indignação.”
Ética e Transparência – junho de 2005


"A palavra deslinde poderia ser substituída, sem prejuízo do sentido, por..." Cinco opções. Tento em vão buscar na mente os sinônimos para adivinhar a palavra do gabarito: aclarar, demarcar, investigar, descobrir... Busco palavras rotineiras, mas não as encontro entre as opções da questão.

Obumbramento. A palavra reverbera em meus pensamentos, mas não consegue ancorar num significado definido. Penso que deve ser algo obscuro. Rendo-me ao dicionário e descubro que obumbrar é cobrir de sombras, tornar escuro, disfarçar... A palavra é a própria máscara e permanece escondida entre outras tantas palavras que não conhecemos ou usamos.

Coonestação. Separo os prefixos e sufixos, busco o verbo... Coonestar, talvez, sugira a aproximação de uma relação honesta... Uma presunção que novamente me leva ao dicionário. Coonestar é dar aparência de honestidade. Outra palavra desconhecida que sugere as manipulações dos discursos e fatos.

Percorro a outra opção, abalada pela palavra solapamento. Oculta-se o preciso significado, mas por intuição não usaria a palavra para desenredar a questão proposta na prova de língua portuguesa. Eta vernáculo rico e difícil...

Passo para a outra alternativa e encontro implicada a palavra enleamento. Fico satisfeita por ter conhecimento do significado. Apesar de não usar a palavra, não me deixo prender na questão ou confundir, ambas ações sinônimas da palavra empregada.

Embruscamento. Por eliminação, eis a resposta. Desembruscar é tornar limpo ou claro.

A questão acima, referente a uma crônica publicada na Agência Carta Maior, foi retirada de uma prova de língua portuguesa de concurso público para orientador pedagógico, realizada no início de janeiro. Fui informada do uso do texto de minha autoria por um dos candidatos do certame. Uma surpresa!

A crônica Ética e Transparência, publicada em junho de 2005, era uma elaboração da indignação pelo uso inapropriado das palavras ética e transparência nos discursos de diversas autoridades políticas. Um desabafo assustado e ainda esperançoso pelos esclarecimentos dos fatos e o restabelecimento das correntes ideológicas sem tanto vazio.

Por ironia, sete meses após, as palavras se repetem com menos ênfase nos pronunciamentos dos políticos, magistrados e envolvidos, mas as apurações foram obumbradas por novos fatos da sociedade do espetáculo, muitos dos envolvidos usam os meios de comunicação para resgatar uma imagem coonestada. Longe dos enleamentos historiados nos relatórios, a verdade é solapada e não percebemos no horizonte o desembruscamento (deslinde) da grave crise política.
Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 24/01/2006
Alterado em 26/01/2006


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