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CONFRONTO DE FUNDAMENTALISMOS - TARIQ ALI

“Quando o mundo real é dominado pela insanidade, a normalidade só existe no manicômio. Os lunáticos têm uma compreensão melhor do crime que está sendo perpetrado do que os políticos que concordam com ele.”
Tariq Ali

Ler Tariq Ali é compreender os fatos da modernidade e seus paradigmas numa perspectiva histórica. As três religiões, cristianismo, judaísmo e islamismo, são apresentadas desde o berço no oriente. Suas relações, aproximações e dissensões e influências produzidas durante a Idade Média, o Renascimento e as grandes guerras que marcaram o cenário mundial no século XX são apresentadas em paralelo com a concepção da jirah.

Os temas e personagens dos livros do Quinteto Islâmico são apresentados nos contextos históricos. O autor, logo no primeiro capítulo: “A infância de um ateu”, apresenta-se como nascido no Paquistão (Terra dos puros) numa família abastada e que teve suas primeiras percepções determinadas pela situação política do seu país e do oriente a partir da década de 40. O menino, que aos cinco anos era agnóstico, com doze se tornou “ateu ferrenho”.

Tariq Ali em todos os seus livros de ficção e não-ficção valoriza a cultura islâmica, demonstra a dedicação ao conhecimento, o avanço da medicina e de outras ciências, as traduções das obras de Aristóteles para o árabe e posteriormente para o latim, a formação das bibliotecas, bem como, a influência das artes e o prestígio dos poetas e escribas. Faz um resgate histórico para lamentar a atual situação do Islã: “A vida intelectual ficou atrofiada, tornando o islamismo, em si, uma religião estática e de aparência atrasada.”

A leitura é instigante e explica as formações das diversas facções dentro do islamismo, as raízes do wahhabismo que até hoje domina a sociedade na Arábia Saudita, o sionismo, a formação do Estado de Israel, a guerra dos seis dias em 1967, a ocupação dos territórios da Cisjordânia e Faixa de Gaza, o nacionalismo árabe, a jirah islâmica contra nacionalistas seculares e marxistas, o fim súbito da guerra fria, a guerra Irã-Iraque, a guerra do Golfo, a tensão entre a Índia e o Paquistão e outros tantos fatos históricos, sociais e políticos que culminaram no fatídico 11 de setembro.

Tariq Ali não se limita às críticas ao imperialismo norte-americano, expande suas observações para o cenário mundial, com perspectivas religiosas, políticas, econômicas e sociais. Inclusive traz ao lume as opiniões de Samuel Huntington, autor de O Choque das Civilizações, e Francis Fukuyama.

A transcrição do poema Hawamish ‘ala Daftar al-Naksah (Anotações à margem do livro da derrota), escrito imediatamente após a guerra de 1967, e de um trecho de Cidades de sal do romancista saudita exilado Abdelrahman Munif são pontos reveladores da narrativa.

Confronto de Fundamentalismos foi publicado em 2002 quando o Iraque era um inimigo anunciado após a intervenção militar no Afeganistão. Tariq Ali alerta para os efeitos do confronto, que com certeza comentou posteriormente no livro Bush na Babilônia: “Depois dos acontecimentos de 11 de setembro os planejadores militares do Pentágono levantaram de novo a questão de retirar Saddam Hussein do poder. Se for lançada uma nova guerra contra o Iraque, a chamada ‘Guerra Contra o Terrorismo’ irá se transformar no oposto. A combinação de raiva e desespero levará a um número cada vez maior de jovens no mundo árabe e em outros lugares sentindo que a única reação ao terrorismo de Estado é o terrorismo individual.”

Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 29/09/2006


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